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O abortamento espontâneo e a Morte Fetal

Terça-feira, 24.03.09

 

A gravidez é um momento especial na vida de uma mulher, uma experiência única para a mulher, para o seu companheiro e para a família em geral. Época plena de mudanças e descobertas de emoções e comportamentos até ai desconhecidos, novas identidades, novos significados existenciais e novos papéis.

Momento de gravidez é também gerador de novas exigências e necessidades afectivas em relação aos outros, em particular, ao filho, a quem a mulher se sente ligada desde o inicio por uma relação de dependência mútuo e progressiva.

Segundo a teoria de vinculação, o desenvolvimento de relações afectivas corresponde a um processo psicológico normativo, adquirido ao longo da evolução filogenética e fortemente enraizada no reportório humano.
A figura de vinculação é permanente fonte de segurança para a criança. Quando se sente ameaçada, busca protecção e conforto junto da mãe, revelando comportamentos de vinculação como o aproximar-se, o choro ou procura de contacto.

Tradicionalmente, prevalecia a ideia de que a ligação mãe-bebé é iniciada por altura do nascimento, no entanto, e contrariando a imagem da passividade psicológica da mulher grávida em relação ao feto, é hoje consensual que se começa a formar durante a gravidez uma relação afectiva ao bebé.
 
Muito antes do nascimento, existe uma forte união, a mãe sente o seu filho como fazendo parte de si e partilhando consigo uma história recheada de experiências e momentos únicos, vividos a um nível íntimo e exclusivo.

A ligação afectiva é fortalecida ao longo da gravidez em particular a partir do segundo trimestre, altura em que os movimentos fetais começam a ser percebidos.
 
Por vezes a gravidez não corre bem e surge um aborto espontâneo. A impossibilidade de conhecer um bebé que se amou muito pode ser um evento extremamente complicado para a mãe, pai e a família. Quando ocorre a perda de um bebé, surge um período de dor e sofrimento que a mulher tentará ultrapassar. A perda de um filho é um processo de traumático ligado á perda de um objecto de amor.

Enfrentar e ultrapassar um aborto é uma tarefa que coloca em causa o equilíbrio psicossomático da mulher. A maioria das mulheres que sofre de aborto espontâneo consegue ultrapassar a perda, sem sofrer de perturbações psicológicas associadas. Mas o aborto pode ser bastante traumatizante, gerando perturbações psicológicas como a depressão e a ansiedade.

As mulheres que sofreram aborto espontâneo são consideradas um grupo de risco e devem ser acompanhadas se existirem indícios de sequelas psicológicas desse aborto. Alguns dos sintomas apresentados anteriormente são normais no período inicial e fazem parte do processo natural de luto. No entanto, alguns destes sintomas permanecem durante muito tempo, afectando ou comprometendo o regresso à vida normal. Algumas mulheres sentem que jamais poderão ultrapassar a perda.
 
1. DEFINIÇÃO DE ABORTAMENTO E LUTO
 
Os diferentes tipos de perda

Morte perinatal
Por um período perinatal entende-se o período de tempo que decorre entre as 20 semanas de gravidez e os primeiros 7 dias após o nascimento.
 
Morte fetal
Como morte fetal entende-se a perda do bebé no último trimestre da gravidez in útero, englobando neste caso a perda do bebé durante o trabalho de parto.
 
Perda espontânea
Independentemente da causa médica subjacente, a perda espontânea da gravidez representa uma perda precoce, usualmente nas primeiras 12 semanas da gravidez, de forma repentina e inesperada.
 
Interrupção médica da gravidez (IMG)
As situações que determinam a IMG estão bem delineadas, do ponto de vista legal. Interrupção até ás 24 semanas de gravidez na presença de doença grave ou malformação congénita; interrupção até ás 16 semanas de gravidez, quando a gravidez resulta de um crime contra a liberdade e auto-determinação sexual (Lei nº 90/97 de 30 de Julho).
 
Reacções psicológicas

As reacções psicológicas a uma situação de abortamento são múltiplas e não estão relacionadas, linearmente, com o tempo de gestação. Dependem da motivação e desejo da gravidez, do investimento emocional nela depositado e na ligação com o bebé. No entanto, habitualmente, as perdas ocorridas no último trimestre têm maior impacto.

Apesar da variabilidade individual nas respostas emocionais, as mulheres que sofrem uma perda espontânea estão mais vulneráveis a apresentar tristeza, frustração, desapontamento, raiva (em relação às mulheres grávidas, aos médicos, aos maridos) e culpabilização (por acharem não ter tido os cuidados necessários).

São frequentes episódios depressivos em momentos significativos: na data prevista para o parto, em anos subsequentes na data do abortamento, numa próxima gravidez. Também são comuns as perturbações de ansiedade numa gestação subsequente.

Quando estas consequências emocionais se agravam ou perduram no tempo, não sendo resolvidas através dos recursos pessoais ou ainda, caso surjam abortamentos espontâneos repetidos, é necessária intervenção psicológica específica.
 
Quando estão razões estritamente médicas para a interrupção da gravidez, é possível perspectivar o sofrimento que o processo de decisão gera, sobretudo quando os movimentos fetais se fazem sentir e o nascimento do bebé é já perspectivado pelos pais, familiares e amigos.

Nas situações de IMG é possível que algumas mulheres experienciem arrependimento pelo acto cirúrgico, culpa pela morte do bebé e receio de não conseguir voltar a engravidar. 
 

 Artigo da responsabilidade da Dr" Sandra Cunha, Psicóloga especializada em Saúde e coordenadora do Dep. De Psicologia da APA

 

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publicado por Associação Projecto Artémis® às 11:49


1 comentário

De Nayara a 18.02.2014 às 18:08

Oi meninas ,tem 17 dias que perdi minha aninha ,eu já tive dois abortos antes dela, mais foram de dois meses e o outro de uma semana ,sofri muito ,mas esse ultimo mexeu muito com meu emocional, eu dedes do primeira semana,o médico me proibiu de ter uma relação sexual já para evita qualquer problema com minha gestação , e repouso ,tomava remédios para mante a gravides , chegando no 5 meses ,ele suspendeu o remédio ,falo que já tinha passado do alto risco ,e eu fiquei feliz ,mas logo ao 6 meses, notei que tava tendo muita dor de cabeça, e estava pegando peso muito rápido , e comentei com medico , ele só falava qualquer problema maternidade , e as 29 semanas de gestação fui faze um utra , quando a médica falo que minha bebe tava muito pequena, para o tempo de gestação dela ,e nesse momento passei mal ,e me socorreu levando pra minha maternidade de indicação , chegando la ,viro que eu estava com a pressão alta ,em ternada na hora , fique 24 hora cem come pq ,eles iria controla minha pressão ,e faze minha cesária a minha filha da hora em que chegou e até a as 30 horas depois ela estava viva , mas quando chegou a noite tinha outra paciente também de prematuro, era gÊmeos e a médica do plantão da noite disse:olha mãe segura mais uns meses esses bebes ai ,porque temos outo bebe ali e só temos uma incubadora , e de madrugada essa mãe não aguentou foi para mesa de parto ,teve os dois eles por se irmãos colo caro na mesma incubadora , e a minha fico sem incubadora , o médico chegou em mim e pro meu marido no outro dia e disse: mãe eu não posso faze mais nada , sua filha é muito pequena ,só tem 1kg ,e seria uma judiação faze o seu parto ,e a sua bebe morre na minha mão , não temos mais onde coloca sinto muito , vamos faze um parto induzido ,já deu óbito fetal , fiquei mais dois dias para ter um parto normal ,colocando comprimidos para abri o meu colo ,para placenta estoura ,e chegou a hora foi uma dor muito forte mais não tão grande como quando eu vi minha filha,peguei minha filha no colo , eu chorrei ,beijei ,falei com ela e nada ,ela foi minha companheira durante meses eu falava com ela ,ela mexia ,meu esposo chegava do serviço ele abria a porta ela já mexia, conhecia a voz do pai dela ,tanto que quando a vi o rosto do pai,ai eu chorrei muito, branquinha do cabelo bem pretinho e as pintinha no rosto igual a do pai ,linda minha princesa ,e fiquei mais 4 dias , porque depois tive problema com minha pressão e ficava do quarto para Uti, Do Uti para o quarto ,mas quando fiquei bem, me dero alta ,mais fiquei triste de precisa de uma incubadora e não ter , com tanto emposto que pagamos ,Mas sinto ainda muita Saudades da minha Ana Paula te amo filha , não sei quando essa dor vai passa só sei que doi muito ,e nem as coisas da minha filha consegui mexe ta tudo guardado , já tava tudo pronto pra ela , não esperava que poderia acontece de novo , mais infelizmente aconteceu ,Não sei mais se tenho mais emocional para em gravida de novo o medo da perda é muito grande ,Só espero minha Princesa onde vc estive esteja com Deus e em paz ,TE AMO MUITO , PARA sempre SUA Mãe Nayara , e que Deus ajude a todas nos que perdemos nossos amores, a supera se é que vamos um dia supera ,porque esquece nunca.

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Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.


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projectoartemis Sandra Cunha, Psicóloga desde 2005 da Associação Projecto Artémis, tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde essa data na área da Perda Gestacional. Desde Junho de 2011 está como Presidente da Associação Projecto Artémis, procurando quebrar o silêncio, alienado o seu conhecimento técnico com o da realidade da perda de um filho. Perdeu um bebé em 2007, após 2 anos de trabalho como psicóloga da Artémis, o que lhe permitiu reunir à técnica o conhecimento árdua de ter vivido na pele a perda de um filho.

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