Consultório de Perda Gestacional
Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda G
"Não posso dizer que sou infeliz, porque não sou... Mas incompleta sim." - testemunho
"O mais engraçado disso tudo, é que passo dias sem conta a reviver aquela semana, mas quando penso em escrever o meu testemunho, fico com um nó na garganta e com os olhos rasos de lágrimas...
Em Maio de 2013, tive um aborto logo no início da gestação. Estávamos de férias quando fiz o teste, não me esqueço da emoção... O coração a bater quase na boca. Duas riscas, embora uma delas muito ténue.
Contei ao pai, que tal como eu, teve medo e ficou feliz ao mesmo tempo.
Uma semana depois, começo a perder um sangue castanho... Nada de significativo, fiquei assustada, mas como li que isso pode ser normal no início da gravidez, não dei tanta importância.
No entanto, o sangramento aumentou... E lá decidimos ir ao hospital.
Fui tratada da maneira mais fria que poderia haver. Fazem a eco, e realmente não se vê nada... Primeiro, pergunta se estou de facto grávida. Eu respondo que fiz o teste de farmácia, dava positivo, mas a segunda linha era muito ténue. Ao que ela me diz então que estou em processo de aborto e o corpo está a fazer o trabalho dele. Eu pergunto então o que correu mal, e ela só responde que não era para ser.
Eu pedi que fosse feita análises ao sangue, pois tinha medo de uma gravidez ectópica... Contra gosto, a médica pediu a análise.
A enfermeira que me viu a seguir, ao contrário da médica, era um amor de pessoa... Quando saiu o resultado diz que, para aqueles valores, ou estava de menos tempo do que imaginava (o que pelas minhas contas era praticamente impossível) ou de facto estava em processo de aborto. Digeri aquilo da maneira que podia, fui ter com o pai à sala de espera, ele fica tão estupefacto quanto eu, e vamos para casa. De facto o sangramento aumenta, e lá se vai um "sonho" por água abaixo... Na semana a seguir voltei ao hospital, por recomendação da enfermeira, fazem uma eco e dizem que o útero está limpinho.
A médica que está nas urgências neste dia diz que no mês a seguir, Junho de 2013, era melhor evitar relações sexuais devido ao alto risco de infecção.
Assim o fizemos.
Em Julho de 2013, retomamos a nossa vida normal. Eu voltei a tomar a pílula, não pensávamos mais em filhos tão cedo, mas... Em Agosto de 2013, o período está atrasado novamente. Eu já não acredito em gravidez, penso que se calhar estou com algum problema hormonal, tenho que ir ao ginecologista.
No dia 15/08/2013, comprei um teste de farmácia por descargo de consciência, precisava de despistar uma possível gravidez... E dessa vez, tenho duas linhas bem fortes. Positivo.
Não fiquei feliz... Aliás, a falta de felicidade e algum sentimento de perda foi o que me acompanhou durante toda esta gravidez.
Estava escaldada da vez anterior, perguntava-me como a pílula havia falhado, eu não me esqueci de nenhum dia.
Não pus os pés nas urgências, fiz tudo com muita calma.
Fui ao centro de saúde, e a primeira ecografia foi feita no dia 11/09/2013. Lá estava o meu bebé. Medidas certas, batimentos cardíacos ok, era perfeito... Fiquei encantada com o milagre da vida naquele dia...
A gravidez seguiu sem nenhum susto. No dia 18/11/2013, descobrimos que era uma menina... Maria Leonor. Foi o pai quem deu o nome, em homenagem à tia e madrinha dele.
Naquela altura sentia-me mais confiante, mas sempre com um aperto no coração...
Começamos então a fazer um enxoval de princesa.
No meio da gravidez eu tinha:
A minha mãe com o braço partido, encontrar casa para nós, preparar o enxoval da menina e gerir as minhas hormonas de grávida.
Às 25 semanas, fizemos uma ecografia em 3D, e graças à Deus que a fizemos... É a recordação que tenho da minha menina.
Ela já tinha umas bochechas enormes, o nariz era como ao meu, os dedos também, eram longos...
Também nesta altura comecei com dores de cabeça. Nunca tinha sentido tantas dores de cabeça na vida! Ficava mal disposta e via pontos brancos... Falei no centro de saúde, a única coisa que me perguntaram foi se passava com o Ben u ron e eu disse que sim.
Vim a saber depois que tive tensões consideradas altas para uma grávida, mas nada me foi dito... Era a minha primeira gravidez, confiava nos médicos, é o suposto, não é?
Ecografia do terceiro trimestre no dia 31/01/2014. Bebé com medidas excelentes, perfeita, já pesava 1820 kg, nessa ecografia nos fez um "adeus" e até uma gracinha com a boca... Mal sabíamos nós que era a última vez que víamos a nossa filha com vida.
A DPP se aproximava, as dores de cabeça continuavam, tínhamos que tornar a casa habitável para a bebé, as decorações vinham depois.
Às 34 semanas começo a inchar, desvalorizado mais uma vez pela médica de família, era normal para o fim da gravidez.
Às 37 semanas, tenho a primeira consulta no HPP de Cascais. O CTG corre bem, não olham para o livro da grávida no que toca as tensões, peso, medem a tensão e está boa naquele dia.
Se a bebé não nascesse entretanto tinha consulta duas semanas depois para nova avaliação.
Às 38 semanas tenho as malas prontas, tudo muito cor de rosa, tudo muito piroso... Sentia-me ansiosa, mas aquela sensação de perda, de que ela não era minha continuava a acompanhar-me... Pedi ao pai que, se caso tivessem que escolher entre eu e ela, que ele escolhesse à ela. Eu sentia que algo estava para acontecer (para além do parto iminente), só não sabia o que.
Às 39s e 5d, nova consulta no hospital. Na semana anterior, notei que os movimentos dela diminuíram consideravelmente. Mexia-se bem, mas não como o habitual. Comentei nesta consulta, mas foi me dito que era normal, que ela já não tinha tanto espaço quanto isso.
Neste dia foi difícil apanhar o foco do coração dela, estava sempre a perder o sinal e ela mal se mexia... Então a enfermeira diz que era para "abanar" a barriga, que a preguiçosa deveria estar a dormir... Assim o fiz, ela mexeu-se, mas pouco, não reagia como o habitual.
Foi feita uma ecografia neste dia em menos de 5 minutos, perguntei ao médico se estava tudo bem, ele disse que sim, que se entretanto ela não nascesse, tinha consulta para o dia 01/04/2014...
No domingo, 30/03/2014, passei dia angustiada. Era DPP. Estava desejosa que ela nascesse, estava desconfortável, a barriga pesava imenso... Estava toda inchada e andava feito uma pata. Lembro de passar o dia no sofá a fazer festas na barriga e a dizer que já era hora dela nascer... Nessa noite tomei um banho quente, fui deitar-me triste e angustiada, não percebia o porque... Estava prestes a ser mãe, de uma menina, como sempre sonhei!
31/03/2014, um dos piores dias da minha vida. Tive contrações logo pela manhã, o pai manteve-se em casa até quase a hora do almoço para perceber se a coisa engrenava e tínhamos que ir para o hospital. Da mesmo forma que vieram, sumiram.
Fiz o resto do dia normalmente. Ao fim da tarde, por volta das 17:15, foi a última vez que a senti mexer. Enfiou-se por debaixo das minhas costelas, aquilo doeu e eu pedi-lhe para párar, que estava a magoar a mãe... E ela parou, para sempre.
Fiz o jantar, tomei banho, jantámos e aí comecei a achar estranho a ausência de movimentos.
O pai e eu tentamos de tudo. Barriga para cima, música, gatos, abanar a barriga... Nada. Tinha consulta no dia a seguir, mas decidimos ir ao hospital por descargo de consciência.
Eu sabia que algo se passava, mas nunca na minha vida podia imaginar que fosse algo tão mau...
Chegamos às urgências, até estava vazia, na triagem, quando tentaram apanhar o foco do coração dela, não conseguiram. Olhando hoje para trás, acho que ali eu já sabia... Mas era demasiado hediondo para acreditar. Puseram-me uma pulseira vermelha, outro mau sinal...
Mandaram-me para a ecografia e mal puseram o aparelho na minha barriga, confirmou-se o que eu já sabia... Não se via um coração a piscar. Não se via movimentos respiratórios. Ela estava parada, imóvel. A minha Nô havia partido.
Antes que a médica dissesse, pedi que chamasse o pai. Ouvimos a notícia os dois juntos.
"A vossa bebé não tem batimentos cardíacos, ela faleceu."
E o que se faz depois disso?! Como é que é possível?! Então, mas os bebés morrem dentro da barriga da mãe às vésperas de nascer?! Nunca ninguém me disse nada.
Não consegui chorar. Apeteceu-me urrar de dor, de revolta, de ódio. Porque a mim?!
Fui de imediato internada e vivi os piores momentos da minha vida... Dar a notícia à família. Não me esqueço do desespero da minha mãe e do marido dela ao telemóvel. Não me esqueço da imagem do meu marido completamente desfeito a dar a notícia ao lado dele da família.
Não me esqueço de, quando me arrebentaram a bolsa, o líquido amniótico saiu e eu consegui ver a posição em que o corpo dela estava... Debaixo das minhas costelas. Culpei-me por pedi-la para párar... Culpei-me por não a ter protegido. Culpei-me por não conseguir passar a mão na barriga, no local onde o corpinho dela estava. Culpei-me por não ter ido antes ao hospital e ter insistido que ela não estava bem.
Nesse dia tive a minha mãe. A minha sogra. As minhas melhores amigas.
Às 17:10 do dia 01/04/2014, nascia a minha Leonor, adormecida. Não a vi. Senti o corpo dela por breves instantes tocar o meu, pois deixaram-na cair na maca no momento da expulsão...
A minha mãe viu-a. E querem saber de uma coisa? O nariz e os dedos longos eram de facto como os meus, mas os lábios eram do pai.
O que eu sou agora? A sombra de quem eu era. Dias melhores, dias piores, começamos a aprender gerir os sentimentos... Mas as saudades não. E nem o facto de ser definitivo. Fazem dois anos e meio que ela partiu, e eu não consigo habituar-me ao facto de ser definitivo. Não penso nisso muitas vezes, mas quando penso, apetece-me sair da minha própria pele, tal é a dor que me invade... Alguém mais sente-se assim?
Já sou mãe novamente, de um rapaz, que é a luz dos meus olhos 💙
Já ouvi de tudo, já aprendi a ignorar muita coisa e a defender-me também.
Não posso dizer que sou infeliz, porque não sou... Mas incompleta sim. Eternamente.
Beijinho da mãe Pipoca... Daqui até ao céu!... ❤️
Tainá"
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"Um vazio nunca preenchido" - testemunho
A Associação Projecto Artémis disponibiliza para os seus associados serviços de psicologia. Neste momento a A-PA tem núcleos de atendimento em Braga e no Porto que funcionam por marcação.
Contactos para informações projecto.artemis@iol.pt ou 938633707
"Olá, Chamo-me Anabela Costa, sou Mãe de 5 filhos, 4 Anjos e uma princesa que me fez voltar a sorrir.
À 7 anos atrás realizava o sonho de ser Mãe, ter o meu filho David nos braços, vê-lo sorrir.
O momento em que o David nasceu foi magnifico, inesquecível.
Vivemos 2 meses de Amor incondicional, até ao dia em que partiu de junto de mim, momento esse também inesquecível, uma dor dilacerante.
Foi com a partida do David , que comecei a procurar respostas na tentativa de encontrar um “ consolo”, na internet e aí entre tópicos cruzados cheguei à Associação Projecto Artemis, que embora não me parecesse o tipo de apoio à minha perda, resolvi contactar.
Na Associação Projecto Artemis fui recebida de braços abertos e tinha um ombro para chorar.
Fiz terapia e conheci o rosto da perda gestacional, ao conviver com Mães que infelizmente perderam os seus bebés antes de nascerem.
Até que também eu passei a conhecer a dor da perda Gestacional, já não eram só os rostos, mas também o sentimento de dor, um vazio inexplicável.
Ao entrar para a Associação Projecto Artemis, onde encontrei o apoio e a força para continuar a caminhar e a acreditar, via que afinal havia muitas Mães que precisavam do apoio incondicional que era dado na Associação Projecto Artemis, complementando o apoio que a família dava, ou fazendo o que nestes casos muitas famílias e amigos fazem, que é desvalorizarem a dor e a perda de um filho desejado. Por isso a Associação Projecto Artemis também funciona como um porto de abrigo.
Passados 4 anos após a partida do David, e depois das perdas dos meus bebés, um com 10 semanas, outro com 7 semanas e a Miranda com 15 semanas, eis que o sonho de voltar a ter um bebé nos braços , se voltou a realizar, tendo a Maria nascido em 2013.
A dor da perda dos meus 4 bebés está sempre presente, pois ainda hoje me sinto incompleta, parcialmente vazia.
Agradeço à equipa da Associação Projecto Artemis, toda a “paciência” para me ouvirem, para me darem coragem, ajudar a levantar quando a queda era maior e seguir em frente. Lá encontrei o meu porto de abrigo.
Anabela Costa"
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"tenho medo de mais uma vez não ser compreendida..." - testemunho
A Artémis possui um forum em www.perdagestacional.forumeiros.com onde podem partilhar as vossas experiências, tirar dúvidas e ter apoio psicológico.
A Irene é o exemplo de como o nosso forum pode ser um apoio para todas.
"Sempre que alguém de "fora" toca no assunto, quase congelo... Não porque não queira falar da minha perda, da minha dor, mas sobretudo porque tenho medo de mais uma vez não ser compreendida...
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"hoje tenho um menino com 3 anos que é a luz dos meus olhos" - testemunho
"Ola, sou a Liliana, tenho 36 anos.
Casamos em 2010 e logo pensamos em ter filhos.
Em Novembro de 2011 engravidei, tudo correu dentro do normal sem qualquer problema.
No dia 21 de Junho, grávida de 35 semanas, não senti a minha filha mexer, dirigi-me ao hospital e quando me fazem a ecografia e dizem que a minha filha já não tem batimentos cardíacos.
O meu mundo caiu, a dor, o desespero, o choque a revolta é algo inexplicável.
Sei que tenho o meu anjo a olhar por nós.
Passados 10 meses voltei a engravidar e hoje tenho um menino com 3 anos que é a luz dos meus olhos e a minha força de todos os dias.
Nunca mais voltei a ser a mesma, falta a outra parte de mim.
A revolta e a dor continuam presentes.
Amo-te para sempre meu anjo.
Liliana"
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"meu mundo desabou ininterruptamente...minha âncora me resgatou para a vida"
"Minha história...
Podia reescrever minha história com todos os pormenores, mas, além de longa e dolorosa, não quero mais que se torne uma história de pesar, mas sim de força para quem me ler...
Sou Mãe de 5 filhos, 4 Anjos e um menino doce, meigo, lindo.... A luz dos meus olhos, a força do meu coração, o aconchego dos meus dias.
Até à chegada do Emanuel, foi uma caminhada de 14 anos...
14 anos de esperança, angústia, tormento e desilusão....
14 anos em que o meu mundo desabou ininterruptamente sem me pedir permissão....
Onde me refugiei em tudo o que me aliviasse a dor e onde o abismo foi,quase, destino...
1999...2000...2003....2011...
Datas que hoje, passados 17 anos,só eu recordo... Só eu sei que existiram..... Porque, em cada uma delas, há um pedaço de mim que se foi também.... 4 pedacinhos do meu mundo que desabaram sobre a fragilidade do alicerce em que foram plantados...
Com eles, eu morri também e quase me entreguei...
Ártemis,a âncora que me resgatou para vida...
Dia 15 de Outubro de 2005, uma porta que se abriu para me resgatar do fundo do poço em que me encontrava e de onde aquele grupo me resgatou sem me "condenar"...
Uma porta que se abriu e me deu a oportunidade de me sentir Mãe sem ter que pedir permissão para me sentir humana... Para me sentir gente... Para me sentir mulher.... Para me sentir um ser como outro ser, normal...
Para não me sentir uma coisa... Um farrapo... Uma aberração que, "tinha perdido seu filho por falta de gosto", quando estava condenada a poucas horas de vida...
Terapias de grupo... Terapias individuais... Um esforço conjunto onde todas conhecíamos a voz silenciosa de cada uma.... Onde todas conhecíamos os sentimentos mais dolorosos e moribundos em cada respirar, em cada lágrima que teimava cair....
"Agora não vais mais cair, que eu, não vou deixar"...
Eu sei, não fui uma paciente fácil, e hoje dou graças a quem não desistiu de mim...
A terapeuta que encontrei, Dra. Sandra Cunha e todo um grupo de terapia que me acolheu, me abraçou, chorou e riu comigo... Deu-me a mão e puxou-me do mais profundo poço de tristeza, desilusão e desânimo.
Um dia, tive medo de pronunciar a palavra,Filho... A palavra, Mãe...
De me assumir como,Mãe de Anjos...
Hoje digo com orgulho, tenho 5 filhos...
4 à distância de um céu distante e o Emanuel, força da minha força... Luz da minha luz... Sol da minha vida.
À Ártemis, uma só palavra...
OBRIGADAAAAA meus anjos de resgate.
(Mesmo quando emigrei e perdi o meu quarto filho, foi em vocês e com vocês que encontrei a força para ultrapassar mais esta barreira).
Um bem hajam porque existem
Salete Matos"
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"Deixei de viver para passar a sobreviver!" - testemunho







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"já te sentia meu" - testemunho perda 1º trimestre
Hoje recebemos o testemunho da Célia, que para além de dar o testemunho quis também dar a cara, porque a perda gestacional tem rosto sim, é o rosto de cada pai e mãe que vê o seu sonho da maternidade ser interrompido.
Obrigada Célia.
“Meu bebé,
Às 8 semanas, perdi-te…
Dois anos e meio se passaram e o vazio mantem-se.
Em agosto, terias feito 2 anos…
Não passa um único dia sem me lembrar do dia em que me disseram que o teu coração não batia.
Sentimento de culpa por não puder fazer nada…um sufoco que me estrangulava a alma.
Porquê?!?! Mas porquê? Perguntei-me vezes sem conta.
Sei que as 12 primeiras semanas são cruciais…mas já te sentia “meu”. O meu bebé!
Ter que tomar medicação para te expulsar de dentro de mim…não queria, não era justo! E saíste…
De todo que não queria acreditar…ó sentimento de culpa.
Os teus papás estavam tão ansiosos por te ter. O mano também!
Meu amor, aceitei…resignada!...mas não me esqueço de ti, nunca!
Até sempre….
Célia Costa Tavares"
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Dossier de necessidades no acompanhamento à perda gestacional
Olá a tod@s
A A-PA está neste momento a iniciar um novo desafio de forma a podermos elaborar um dossier, com o objectivo de identificarmos diversos pontos no atendimento hospitalar nos casos de perda gestacional.
Tal como noutras situações contamos convosco.
Precisamos que nos enviem as informações de acordo com a imagem.
Contudo apenas poderemos considerar perdas ocorridas nos últimos 5 anos (desde Janeiro de 2011), bem como perdas ocorridas em território nacional.
Agradecemos, de forma a nos facilitar a organização da informação que indiquem as respostas indicando a alínea a que correspondem e por tópicos (não em texto "corrido")
Data limite de envio: 31 de Outubro de 2016
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"Uma guerreira que continua a ser uma guerreira, com menos tropas a seu lado"
Hoje, carinhosamente, um amigo de alguém que perdeu um bebé, enviou-nos este texto, que achamos de um sensibilidade extrema, sobre como os amigos vêem a perda de um bebé e todo o seu processo de alguém que conhecem.
Obrigada ao autor do texto, obrigada pela forma como expôs o tema, simplesmente fantástico.
"Era uma vez...
uma jovem que entrou no país das maravilhas!
Um país colorido, cheio de esperança, onde se é capaz de tudo, onde todas as pessoas são afáveis, carinhosas, onde existe uma preocupação constante e diária para com o novo habitante.
Não foi fácil ali chegar o caminho tinha sido sinuoso e as barreiras foram muitas! Muitos não a entendiam, mas ela estava certa que um dia, todos a iriam entender...
Aquele reino dava-lhe certezas, alegrias e objectivos que não sentia há muito tempo.
Ela sentia-se como tivesse sido escolhida para realizar algo transcendente.
Como que se na sua vida tivesse surgido anjo veio um dia e lhe dissesse para se ajoelhar e rezar pois um milagre estaria para acontecer, um novo ser-criança iria nascer .
Apesar de todas as circunstâncias, meio loucas por sinal, ela sabia que sua vida merecia uma chance, mas todos lhe diziam para ser esperta " usa a cabeça menina"!
Mas ela optou por ouvir o coração!
Era uma vez...
uma jovem que viveu meses num reino de felicidade absoluta e dali não queria sair.
A expectativa crescia dia a dia, a alegria acompanhava o ritmo da expectativa.
Uma nova vida... duas novas vidas a da jovem e aquela que ela gerava.
Era uma vez...
O reino colorido e de bondade foi invadido por nuvens negras, tornados, tempestades, passou a ser reinado por uma Bruxa má ao invés de todas as fadas boas que até ali viviam na altura.
A jovem sentiu-se perdida, perdeu tudo, o seu mundo desmoronou-se !
Afinal não havia aquele reino mágico!
Tinha sido conquistado por um governante chamado dor!
Durante esta batalha a jovem tornou-se numa guerreira, combateu contra magos e feiticeiros de bata branca, gritou, chorou, mas como guerreira que se tornou aprendeu a ter sempre um sorriso.
Os habitantes do reino, fieis companheiros, acompanharam a guerreira nesta batalha que ela sabia desde inicio estar perdida, nunca arredaram pé, gritaram com ela, riram com ela, choraram com ela.
Era uma vez...
Uma guerreira que perdeu a sua grande batalha, e perdeu também alguns dos fieis companheiros que acompanharam, uns por não saber o que dizer, outros que acharam que a guerreira precisava de se reerguer sozinha, outros tão simplesmente entenderam que “já passou, já passou”!
Era uma vez ...
Uma guerreira que continua a ser uma guerreira, com menos tropas a seu lado.
Uma guerreira que não revela a sua estratégia a ninguém e sequer fala da batalha que perdeu.
Os conselheiros do reino que a deverião apoiar encontram-se ocupados, as razões pelas quais a batalha foi perdida continua por desvendar.
Era uma vez...
Uma jovem, que lutou, perdeu e ganhou mas que continua num silencio, um silencio composto por gritos ensurdecedores, que só ela ouve e que não tem coragem de partilhar.
Era uma vez...
Uma guerreira que esteve no pais das maravilhas e que hoje continua a batalhar num mundo tão real e tão cruel!"
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"E o teu corpo não percebe que o teu filho já não é teu..." - testemunho
Os testemunhos continuam a chegar até nós, é um libertar, é um quebrar de silêncio, que tantas e tantas vezes se verifica em torno da perda gestacional.
Aqui fica o testemunho da Ana, uma mãe que ama com um céu de distância.
"Um vazio. Um enorme vazio. É o que fica depois de uma tempestade que só quem vive, compreende. Uma saudade. Tão grande... De tudo o que poderia ter sido.
Quando se decide cumprir o desejo de um vida, não se pensa que alguma coisa irá correr mal. Pelo menos não no início.
Vou ser mãe e sinto-me a rebentar de tanta felicidade. Tantos projetos, tantos sonhos, tantas dúvidas... Tanto AMOR!
A 5 de agosto de 2013, com 9 semanas de gravidez, a notícia cai como uma bomba. Gravidez anembrionária. No dia seguinte, tudo acontece como se eu não estivesse ali. Internamento. Bloco. Curetagem. Fim.
Não se perde a fé quando o nosso sonho é feito de AMOR.
A 3 de janeiro de 2014 confirma-se que vou ter uma segunda oportunidade. Estou grávida, e embora a felicidade seja imensa, o meu coração diz-me para caminhar mais serena. É um menino... Meu Deus... como eu queria o meu menino! Vem aí o meu Gonçalo!
A 15 de abril de 2014, com 20 semanas de gestação, foi a ecografia morfológica que ditou o início dos 4 dias mais difíceis da minha vida. O Gonçalo tinha uma cardiopatia muito grave, sem possibilidade de correção operatória. O meu menino não sobreviveria. Depois da sensação de murro no estômago, fiquei sem chão. Exames, exames, mais exames. Nada a fazer. Internamento. "Terá de ser parto normal. O Gonçalo terá de ser autopsiado". Três dias para para me conseguirem provocar o parto. Parto normal. Sem epidural. Para vir embora, quatro dia depois do tudo começar, de braços vazios.
"Deixem-me chorar tudo."
"Não, vai doer mais um bocadinho".
E o teu corpo não percebe que o teu filho já não é teu, e prepara-te para amamentares. E dói tanto... Principalmente lá dentro. Na alma.
As lágrimas, essas, não secam. Nunca.
Mas ter ao lado o homem da tua vida a mostrar que não estás só, a enxugar-te as lágrimas com as suas, a dar-te a mão, ajuda a seguir, a olhar em frente, a acreditar no AMOR.
"Serás sempre a estrelinha mais brilhante do meu Céu".
Ana Rita Godinho Pereira
35 anos"