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"A maioria não entende que eu fui mãe sim!" - testemunho

Terça-feira, 13.09.16
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"Não sei porquê mas hoje apeteceu-me partilhar a minha...
 Aos 27/28 anos estava casada e com uma grande vontade de ser mãe.
Nunca quis ter muitos filhos, nem ser mãe muito nova... Talvez por ser filha única e a minha mãe ter apenas mais 18 anos do que eu.
Mas naquele momento achei que era o momento. 
Começamos a tentar... o tempo foi passando e nada.
Fiz uma série de exames e estava tudo bem.
Lá vêm as frases célebres de que quando deixasse de pensar ia acontecer! 
Andei uns anos em consultas de infertilidade e nada.
Estava tudo bem. 
Já muito farta, resolvi por sugestão de uma amiga consultar uma outra médica. 
Fui e levei os exames todos que tinha feito.
Ao entregar os exames a médica diz que faltam os exames do meu marido...
Ao que respondo que ele não tinha feito quaisquer exames! 
(A sociedade portuguesa ainda achava que a infertilidade era sempre feminina mesmo quando era uma medica!) 
Para não perdermos mais tempo a médica mandou-me para casa, ter relações essa noite e ir lá na manhã seguinte. 
Quando regressei (sábado de manhã) a médica constata que não existiam espermatozoides vivos dentro de mim... 
Fiz 3 inseminações que não resultaram pois a quantidade e qualidade dos espermatozoides não era suficiente para engravidar. 
Dei entrada na lista de espera de Sta Maria para fazer uma ICSIS. (FIV mas com causa masculina).
 Entretanto em Maio de 2007 sou chamada.
Tinham passado 7anos desde o momento que desejei ser mãe. 
Depois da tortura de me auto-injectar  4 vezes ao dia, mais análises e idas ao hospital diárias chega o dia de colocar os embriões! 
Estava tão feliz....sentia que ia buscar o meu bebé!
E fui... engravidei logo!!! 
Nunca me senti tão feliz na minha vida... Tão preenchida! 
No dia em que fiz 35 anos estava grávida, casada com o homem da minha vida (conhecemo-nos aos 15 e começamos a namorar aos 18).
Tudo parecia perfeito!!! 
Pouco depois começo a ter algumas complicações que me obrigaram a repouso absoluto e no dia 12 de Novembro perdi o MEU FILHO! 
Não vos consigo descrever o sofrimento. 
Cheguei a ter aquela aguadilha tipo leite, talvez por causa dos tratamentos.
Tive uma hemorragia tal que tive que assinar um termo de responsabilidade para não levar uma transfusão, claro que fiquei com uma enorme anemia. 
Já para não falar da descompensação hormonal... 
No dia em que fiz os 36 anos estava sem filho e sem marido que entretanto decidiu que queria outra vida para ele. 
Se tivesse corrido tudo bem, o meu Salvador teria feito 8 anos em Maio.
Entraria agora para o 3º ano. 
È engraçado como nas mais pequenas coisas me recordo dele... 
Hoje é porque é o regresso às aulas e eu penso como teria sido! 
A tristeza e mágoa relativamente ao meu ex-marido passou.
Acredito que não fez por mal, nem com intenção de me magoar, apenas não soube lidar com toda aquela tragédia e acho que se sentiu culpado. 
A tristeza e dor da perda do meu filho essa será para sempre!
Não consigo falar deste assunto sem chorar, não consigo ouvir uma ecografia e o som do coraçãozinho a bater sem chorar.
 
Fui bem tratada em Sta Maria. Não tenho nada a dizer, mas não me esqueço quando o médico diz que se assim foi é porque o embrião não era viável. 
Para ele seria um embrião... Para mim era, é e será sempre o meu filho!
Depois disso nunca mais engravidei.
 
Esta é a minha  história... mas que partilho e sobretudo com este grau de detalhe com muito pouca gente. 
A maioria não entende que eu fui mãe sim!
Mesmo que só por um bocadinho... mas o sentimento, esse será para sempre!
 
 
Um beijinho da mãe Ana..."

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publicado por Associação Projecto Artémis® às 11:56






Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.


Direcção A-PA

projectoartemis Sandra Cunha, Psicóloga desde 2005 da Associação Projecto Artémis, tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde essa data na área da Perda Gestacional. Desde Junho de 2011 está como Presidente da Associação Projecto Artémis, procurando quebrar o silêncio, alienado o seu conhecimento técnico com o da realidade da perda de um filho. Perdeu um bebé em 2007, após 2 anos de trabalho como psicóloga da Artémis, o que lhe permitiu reunir à técnica o conhecimento árdua de ter vivido na pele a perda de um filho.

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