Consultório de Perda Gestacional
Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda G
"E o teu corpo não percebe que o teu filho já não é teu..." - testemunho
Os testemunhos continuam a chegar até nós, é um libertar, é um quebrar de silêncio, que tantas e tantas vezes se verifica em torno da perda gestacional.
Aqui fica o testemunho da Ana, uma mãe que ama com um céu de distância.
"Um vazio. Um enorme vazio. É o que fica depois de uma tempestade que só quem vive, compreende. Uma saudade. Tão grande... De tudo o que poderia ter sido.
Quando se decide cumprir o desejo de um vida, não se pensa que alguma coisa irá correr mal. Pelo menos não no início.
Vou ser mãe e sinto-me a rebentar de tanta felicidade. Tantos projetos, tantos sonhos, tantas dúvidas... Tanto AMOR!
A 5 de agosto de 2013, com 9 semanas de gravidez, a notícia cai como uma bomba. Gravidez anembrionária. No dia seguinte, tudo acontece como se eu não estivesse ali. Internamento. Bloco. Curetagem. Fim.
Não se perde a fé quando o nosso sonho é feito de AMOR.
A 3 de janeiro de 2014 confirma-se que vou ter uma segunda oportunidade. Estou grávida, e embora a felicidade seja imensa, o meu coração diz-me para caminhar mais serena. É um menino... Meu Deus... como eu queria o meu menino! Vem aí o meu Gonçalo!
A 15 de abril de 2014, com 20 semanas de gestação, foi a ecografia morfológica que ditou o início dos 4 dias mais difíceis da minha vida. O Gonçalo tinha uma cardiopatia muito grave, sem possibilidade de correção operatória. O meu menino não sobreviveria. Depois da sensação de murro no estômago, fiquei sem chão. Exames, exames, mais exames. Nada a fazer. Internamento. "Terá de ser parto normal. O Gonçalo terá de ser autopsiado". Três dias para para me conseguirem provocar o parto. Parto normal. Sem epidural. Para vir embora, quatro dia depois do tudo começar, de braços vazios.
"Deixem-me chorar tudo."
"Não, vai doer mais um bocadinho".
E o teu corpo não percebe que o teu filho já não é teu, e prepara-te para amamentares. E dói tanto... Principalmente lá dentro. Na alma.
As lágrimas, essas, não secam. Nunca.
Mas ter ao lado o homem da tua vida a mostrar que não estás só, a enxugar-te as lágrimas com as suas, a dar-te a mão, ajuda a seguir, a olhar em frente, a acreditar no AMOR.
"Serás sempre a estrelinha mais brilhante do meu Céu".
Ana Rita Godinho Pereira
35 anos"