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"E o teu corpo não percebe que o teu filho já não é teu..." - testemunho

Terça-feira, 20.09.16

Resultado de imagem para gravidez anembrionaria

Os testemunhos continuam a chegar até nós, é um libertar, é um quebrar de silêncio, que tantas e tantas vezes se verifica em torno da perda gestacional.

Aqui fica o testemunho da Ana, uma mãe que ama com um céu de distância.

"Um vazio. Um enorme vazio. É o que fica depois de uma tempestade que só quem vive, compreende. Uma saudade. Tão grande... De tudo o que poderia ter sido.

Quando se decide cumprir o desejo de um vida, não se pensa que alguma coisa irá correr mal. Pelo menos não no início.

Vou ser mãe e sinto-me a rebentar de tanta felicidade. Tantos projetos, tantos sonhos, tantas dúvidas... Tanto AMOR!

A 5 de agosto de 2013, com 9 semanas de gravidez, a notícia cai como uma bomba. Gravidez anembrionária. No dia seguinte, tudo acontece como se eu não estivesse ali. Internamento. Bloco. Curetagem. Fim.

Não se perde a fé quando o nosso sonho é feito de AMOR.

A 3 de janeiro de 2014 confirma-se que vou ter uma segunda oportunidade. Estou grávida, e embora a felicidade seja imensa, o meu coração diz-me para caminhar mais serena. É um menino... Meu Deus... como eu queria o meu menino! Vem aí o meu Gonçalo!

A 15 de abril de 2014, com 20 semanas de gestação, foi a ecografia morfológica que ditou o início dos 4 dias mais difíceis da minha vida. O Gonçalo tinha uma cardiopatia muito grave, sem possibilidade de correção operatória. O meu menino não sobreviveria. Depois da sensação de murro no estômago, fiquei sem chão. Exames, exames, mais exames. Nada a fazer. Internamento. "Terá de ser parto normal. O Gonçalo terá de ser autopsiado". Três dias para para me conseguirem provocar o parto. Parto normal. Sem epidural. Para vir embora, quatro dia depois do tudo começar, de braços vazios.

"Deixem-me chorar tudo." 

"Não, vai doer mais um bocadinho". 

E o teu corpo não percebe que o teu filho já não é teu, e prepara-te para amamentares. E dói tanto... Principalmente lá dentro. Na alma.

As lágrimas, essas, não secam. Nunca.

Mas ter ao lado o homem da tua vida a mostrar que não estás só, a enxugar-te as lágrimas com as suas, a dar-te a mão, ajuda a seguir, a olhar em frente, a acreditar no AMOR. 

 

"Serás sempre a estrelinha mais brilhante do meu Céu".

 

Ana Rita Godinho Pereira

35 anos"

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publicado por Associação Projecto Artémis® às 11:02






Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.


Direcção A-PA

projectoartemis Sandra Cunha, Psicóloga desde 2005 da Associação Projecto Artémis, tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde essa data na área da Perda Gestacional. Desde Junho de 2011 está como Presidente da Associação Projecto Artémis, procurando quebrar o silêncio, alienado o seu conhecimento técnico com o da realidade da perda de um filho. Perdeu um bebé em 2007, após 2 anos de trabalho como psicóloga da Artémis, o que lhe permitiu reunir à técnica o conhecimento árdua de ter vivido na pele a perda de um filho.

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