Consultório de Perda Gestacional
Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda G
Petição Pública - Estratégia Nacional para a Sensibilização nos Cuidados em Perda Gestacional e Morte Neonatal
Segunda-feira, 10.10.22
A OMS estima que anualmente no mundo ocorrem 2,6 milhões de perdas gestacionais após as 22 semanas de gestação e 17% a 22% das gravidezes terminam em aborto espontâneo.
Em Portugal a dor da Perda Gestacional e Morte Neonatal é uma dor silenciosa, vivida em isolamento, fruto do tabu que envolve o tema.
Com o objectivo de inverter este tabu e dar condições clínicas e psicoemocionais para que estes casais possam viver o Luto da sua perda falando abertamente e permitindo-lhes ter um acompanhamento nesta fase tão dolorosa e traumatizante, a Associação Projecto Artémis lança hoje uma petição pública, acreditanto que será um passo para que possamos juntos fazer diferente e dignificar todos os bebés que nascem sem vida.
Junta a tua voz à nossa, #darvozaperdagestacional e assina a petição!
Tu podes fazer parte da mudança!
IMPORTANTE: as assinaturas só são válidas se colocarem o vosso nº CC/BI, após isso deverão validar através do link que recebem no vosso email.
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Dar Voz à Perda Gestacional ( #darvozaperdagestacional)
Segunda-feira, 10.10.22
A Perda Gestacional e a Morte Neonatal é uma realidade que pouco se fala deixando casais num silêncio que corrói e que continua a ser incompreendido.
No mês em que se assinala em vários países o Dia para a Sensibilização da Perda Gestacional e Morte Neonatal (15 de outubro), a Associação Projecto Artémis inicia uma campanha de sensibilização durante todo o mês de outubro.
Dar Voz à Perda Gestacional ( #darvozaperdagestacional) será o nosso objectivo. Iremos ao longo do mês desenvolver várias acções e lançar desafios procurando com todos eles dignificar estes bebés, deixar que estes pais falem abertamente sobre as suas perdas e a sua dor e acima de tudo quebrar o tabu que envolve o tema.
Todos os desafios e acções serão anunciadas nas nossas redes sociais.
Juntos podemos fazer diferente, Juntos podemos mudar mentalidades.
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"Sobre as andorinhas e o Amor" - Ana Catarina Brandão
Sábado, 08.10.22
Olá.
Hoje vou falar-vos sobre as andorinhas, o amor, a Catarina e o Fernando.
No início de maio de 2021 descobriram que estavam grávidos. O Fernando ficou muito feliz. A Catarina ficou feliz, mas...receosa de tudo o que estava por vir. Uma gravidez, um parto, um bebé, uma vida a três, incertezas, desconhecimento do que aí vinha, os questionamentos, as dúvidas...rapidamente procurou ajuda junto da médica assistente para garantir que estava tudo bem e que estava a fazer tudo certinho.
Ainda ninguém sabia que estavam grávidos quando, no dia 23 de maio de 2021 surge a ameaça de perda do seu bebé. Surgiu um novo medo, um medo diferente daquele que tinha sentido quando soube que estava grávida. Nas urgências, quando o médico lhe disse que estava tudo bem, quando ela ouviu o coração da Andorinha, surgiu um alívio tão grande que trouxe paz. Surgiu um sentimento de proteção e de querer muito que estivesse tudo bem com o bebé. E que tudo ficasse bem.
Na manhã seguinte, algo estranho se passava. Havia um aperto no peito. Mas a Catarina seguiu viagem até ao norte para passar uns dias de férias. A viagem não foi agradável. Algumas dores "menstruais" e alguns pensamentos partilhados com a sua Andorinha.
Quando chegou ao norte ainda achou que nada estava a acontecer, que nada daquilo poderia estar a acontecer. Mas fisicamente, a dor era mais intensa e teve de procurar ajuda junto das urgências. Foi em Santa Maria da Feira que a médica de serviço lhe deu a notícia que havia perdido o seu bebé.
A Catarina chorou muito muito muito, deitada na cadeira ginecológica das urgências do Hospital.
Os seus pensamentos e sentimentos eram um turbilhão. A médica só tentava acalmar, passando mensagens de coragem e motivacionais. Tentando passar a ideia que não havia culpa e que não havia nada que ela pudesse ter feito para poder ser diferente.
E a verdade é que, mesmo após chegar a casa, dormir longas horas e acordar, não se sentia culpada.
O Fernando viajou 3h de carro só para a abraçar e quando ela sentiu o seu abraço, sentiu-se em casa.
Chorou muito nos dias seguintes, mas não se sentia culpada. Sentia tristeza. Tentou apenas entender o que tinha acontecido, convenceu-se de que fora a natureza a tratar/resolver uma situação (= bebé / ser vivo) que não estaria bem e que a vida seguiria. Novas oportunidades haveriam de surgir.
E surgiu. Passados 8 meses, há um atraso, há um teste e estavam grávidos novamente.
Em janeiro de 2022, logo no início do ano, veio o presente em forma de andorinha.
E desta vez, as reações foram diferentes novamente.
A Catarina ficou feliz e o Fernando ficou feliz, mas...receoso de que pudessem perder novamente, de que a Catarina sofresse fisicamente.
E desde o teste positivo até ao dia em que tudo aconteceu pela segunda vez, cada ida à casa de banho era um suspiro de alívio: está tudo bem!
No dia 24 de janeiro teve de ir às urgências pois algo não estava bem.
E no caminho para o hospital, as lágrimas eram fortes e consistentes. Algo não estava bem e a Catarina sabia disso. Sentia isso.
Após um pouco mais de 12h, regressa a casa, e deixa 'voar' a segunda andorinha. Perdeu o segundo bebé.
A primeira perda foi rápida, menos dolorosa fisicamente e até emocionalmente. As perdas gestacionais são mais 'normais' do que aquilo que se pensa e se fala, então, o processo de aceitação / entendimento da situação foi mais simples. A médica foi incrível. E apesar de estar sozinha na sala de urgência, a Catarina sentiu amor, compreensão e atenção. Quase como se de um abraço se tratasse.
A segunda perda foi lenta, dolorosa fisicamente e emocionalmente. Muitas questões, muitos sentimentos, muitas perguntas sem resposta. Na segunda perda, e mesmo reportando dificuldade auditiva, a Catarina sentiu-se incompreendida, sozinha, desprovida de atenção e amor, desprovida de empatia.
Saiu do hospital e os dias que se seguiram foram de apatia, de solidão, de tristeza, de choro.
Sozinha em casa, a raiva foi ganhando voz, as perguntas sem respostas continuaram a surgir na cabeça da Catarina e mágoa no coração.
Entre a primeira gravidez e a segunda, "não houve" muito para resolver. A vida seguiu.
Mas após a segunda perda, foi como se só tivessem ficado as coisas más: a raiva, a mágoa, a tristeza, entre outros.
Hoje, passados 7 meses, a mágoa começa a dar lugar à esperança. A raiva começa a dar lugar à nostalgia e à saudade. É certo que ainda existe tristeza e vazio, mas há esperança...e amor.
Amor para dar ao bebé que haverá de vir.
Fica a saudade das andorinhas que voaram!
"O Amor, como as andorinhas, dá felicidade às casas!"
Obrigada
Ana Catarina Brandão