Consultório de Perda Gestacional
Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda G
Quando o início é o Fim da Vida
" Mulheres que geram, mas que não dão à luz...É quase uma antítese, um paradoxo. Não é possível, quem gera, tem que dar à luz! Ou teria que dar à luz. Ou deveria dar à luz. É confuso, não é? E são só palavras…quando deixamos estes singelos jogos semânticos e vivemos a realidade que eles espelham, podemos sentir o colapso de uma ilusão, o desmoronar de um ciclo, a morte da liberdade da alma.
Este é o reverso da moeda, o outro lado da gravidez, o fantasma da maternidade – O Aborto."
Excerto retirado do livro "Pacto de Silêncio"
Tenho constatado que vivo inserida, claramente, numa Sociedade em que o Aborto espontâneo é banalizado e o Ser que se gera sentido como se de um Pseudo-bebé se tratasse.
Infelizmente, nesta minha Sociedade, só quando se cinge nos braços o recém-nascido, é que o avaliam como uma Vida, antes ele nunca passou de uma mera “vida potencial”, que na eventualidade de se perder “Está tudo bem”!
Os próprios profissionais de saúde, salvo raras excepções, não equacionam a dor anímica, ou preferem ignorá-la. Resumem a perda de um bebé à dor física, ao seu material de trabalho, o corpo, e no entanto, a primeira é terrivelmente devastadora, deixando sequelas que colocam a integridade da mulher em causa, mas esta ninguém trata!
Os médicos lêem na Perda Gestacional estatísticas, que fatalmente gritam uma realidade crescente e não casos pontuais, as mulheres vivem um luto sozinhas…
É importante sublinhar que, quando a dor física sara, perpetuam-se as cicatrizes psicológicas por uma vida e o Vazio passa a preencher uma saudade de um filho que nunca se deu à luz.
A Artémis emerge desta Sociedade para combater esta visão desinteressada sobre a Perda Gestacional, emerge para apoiar mulheres, que por momentos, puderam sentir o pulsar da vida no seu ventre, emerge para um objectivo comum, fazê-las acreditar num vocábulo tão simples como este: CONSEGUIR!
Todas estas mulheres são verdadeiras lutadoras, que nunca largaram esse sonho evasivo, que durou um minuto, mas que lhes comanda a vida: ter um filho!
A Artémis batalha por mostrar que Nós (sociedade) temos um papel de actor principal, é imperativo que apoiemos, que compreendamos, que saibamos fazer um luto àquele bebé, que não se manifestando fisicamente, existia, era amado, desejado e planeado por um casal repleto de fantasias e expectativas.
Artigo da responsabilidade de Manuela Pontes
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4 comentários
De Lúcia Marcos a 23.03.2009 às 11:12
É tão importante este reconhecimento, esta forma de dar a cara e dar a conhecer um sofrimento tão profundo e tão atroz como é o causado pela perda de um filho, ainda que com uma curta presença entre nós.
Obrigado, Manu por mais esta iniciativa e estás linda na fotografia!