No dia 17 de Maio de 2009 dei entrada no serviço de atendimento permanente do hospital. No dia 17 de Maio de 2009 perdi a minha única filha, a minha menina com 37 semanas e 3 dias de gestação e quase perdia a minha própria vida. No dia 17 de Maio de 2009 sofri uma ruptura uterina e posso não vir a ter mais filhos.
Dei entrada pela primeira vez por volta das 4 horas da madrugada com muitas dores abdominais. Fui atendida por uma médica que me fez o CTG e toque e verificou que não me encontrava em trabalho de parto mas que, apesar das minhas queixas e de ter vomitado ainda durante a consulta, me mandou para casa depois de ter perguntado ao meu marido se eu era piegas. Não culpo essa médica por aquilo que aconteceu pois não era previsível nem diagnosticável por qualquer exame, nem a culpo porque também eu achei que tivesse tido uma paragem de digestão… mas eu não sou médica.
Talvez se a médica me tivesse mantido mais tempo em observação a história pudesse ter outro final, talvez tivesse percebido que a minha bebé estava em sofrimento e eu também, talvez eu não corresse risco de vida e tivesse agora a minha filha ao colo… mas talvez acontecesse tudo da mesma forma. Não sei, nem nunca irei saber e por isso nunca tive intenções de fazer qualquer queixa apesar de muita gente me dizer para o fazer e por isso também não a identifico a médica que me atendeu naquela madrugada.
O meu regresso a este hospital deu-se por volta das 12 horas do mesmo dia, sugerido pela Dr.ª Ana Paula Valentim que, num dia que deveria ser de descanso, apenas passou pelo hospital para ver umas parturientes. Quando lá cheguei quase não me mexia de tantas dores e hoje posso dizer que talvez tivesse sido o destino que enviou a Dr.ª Ana Paula naquele dia. Contra a opinião de outros médicos a Dr.ª decidiu fazer-me cesariana, o que me salvou a vida. A ela agradeço a minha vida e tudo o que fez por mim e que sei que faria para salvar a minha menina se o pudesse ter feito.
Agradeço também às enfermeiras que me deram muito apoio, especialmente a Enfermeira Rosa, agradeço ao anestesista que foi extraordinário mas que não cheguei a saber o nome apenas percebi que não é português devido ao seu sotaque e agradeço a toda a equipa médica que não teve uma vida muito fácil naquele dia.
Também gostaria de fazer um pedido, gostaria que divulgassem no Hospital uma Associação que me tem ajudado neste período tão doloroso, a “Artémis” e que pode vir a ser útil para aliviar o sofrimento de outras mulheres. Esta é uma Associação que ajuda as mulheres e seus familiares que passam por uma perda gestacional, seja ela aborto ou morte fetal. Nesta Associação todos falam a mesma Língua e partilham a mesma dor. O site é: http://www.associacaoartemis.com e o fórum é http://perdagestacional.forumeiros.com.
Obrigado,
Vanda Serrano