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Memorando de recomendações - Acompanhamento Perda Gestacional

Terça-feira, 14.06.16

No dia 12 de Maio de 2016 a A-PA teve a audição prévia para a petição, na qual fomos ouvidos pela Deputada Marisabel Moutela (PS) e o deputado Carlos Matias (BE).

No seguimento dessa audição a A-PA enviou à comissão parlamentar o seguinte memorando de recomendações:

 

"Memorando de recomendações

Para: Exmo. Sr. Presidente da Assembleia da República e respectivos deputados

De: Associação Projecto Artémis

Data: 17 de Maio de 2016

Assunto: Recomendações sobre Acompanhamento Perda Gestacional

 

Exmos srs.

A Perda Gestacional é vista na nossa sociedade como um tabu, é um tema do qual não se fala, e que muitas vezes a realidade das sequelas psicológicas e a dor pela qual estes casais passam não é conhecida da população em geral. Na maioria dos casos estes pais sofrem em silêncio. Um silêncio aterrador que se inicia no momento em que recebem a notícia da perda do seu bebé e permanece pelo silêncio a que a sociedade os obriga. 

A Associação Projecto Artémis, é uma instituição sem fins lucrativos que tem como foco de trabalho o apoio a casais que perdem bebés durante a gestação.

É nossa missão:

- Chamar a atenção para a problemática da Perda Gestacional no nosso país. 
- Oficialmente, conseguirmos que seja reconhecida por todos como um problema real. 
- Honrar e celebrar a luta árdua que milhares de portuguesas enfrentam para dar à luz o seu filho. 

- Quebrar o tabu envolto na ignorância / desconhecimento de um problema diário .

- Dignificar o sofrimento e dar-lhe voz.

No nosso país as lacunas em torno da perda gestacional tem início desde logo nas instituições hospitalares e no sistema governamental onde estas instituições estão inseridas.

  

Ora vejamos:

  1. Os dados estatísticos existentes no que se refere às perdas até às 22 semanas de gestação (considerado clinicamente abortos espontâneos) estão inseridos no Relatório anual das complicações das interrupções da gravidez. Facto que consideramos que minimiza as perdas gestacionais, bem como que desrespeita estes pais que perderam os seus bebés sem vontade própria;
  2. Os dados estatísticos existentes em relação ás perdas gestacionais após as 22 semanas de gestação são dúbios. Os últimos existentes referem-se a 2015 e indicam 489 perdas gestacionais.
  3. Os pontos anteriores baseiam-se no registo efetuado pelos hospitais, quando no próprio relatório da Direção Geral de Saúde indica que nem todos os hospitais responderam quando lhes foi solicitado esses números.
  4. Nas nossas instituições hospitalares, em muitos casos, estas mães são internadas nas mesmas enfermarias/quartos que parturientes em situação de parto normal, são confrontadas com bebés recém nascidos durante todo o seu internamento, o que demonstra um total desrespeito por estas mães.
  5. No site do Sistema nacional de Saúde, o decreto de lei nº 113/2002 de 20 de Abril que se refere à Dispensa do certificado médico em caso de morte fetal, está inserido na legislação da Interrupção Voluntária da gravidez, o que nos leva mais uma vez à inclusão destas situações no local errado, mostrando a desvalorização sobre a perda gestacional
  6. Nas instituições hospitalares não é prática comum a disponibilização do serviço de psicologia a estes casais, muitas vezes o mesmo é apenas disponibilizado em casos de perda no 3º trimestre, e mesmo assim leva meses a verificar-se o início do acompanhamento.
  7. Nem sempre a notícia é dada a estes pais da forma mais humanizada, é em muitos casos, principalmente nas perdas de 1º trimestre, desvalorizada a perda deste bebé por parte dos técnicos de saúde, verbalizando inclusive em diversos casos frases desumanas o que cria revolta mais acentuada nestes pais.

  

Posto isto, e considerando que a A-PA para além do serviço que presta junto destes pais, tem como responsabilidade promover a melhoria no acompanhamento e sensibilização junto da sociedade em geral, identificamos as seguintes recomendações que consideramos que de alguma forma poderão ajudar a que estes pais tenham um melhor acompanhamento e que estas perdas sejam respeitadas e valorizadas como tal.

Recomendações:

  1. Existir dados estatísticos fidedignos, e um registo obrigatório por parte das instituições hospitalares em qualquer idade gestacional em que a perda ocorra
  2. Os números relativos às perdas não serem inseridos no Relatório anula de Complicações nas interrupções da gravidez, mas sim num relatório referente apenas às perdas gestacionais
  3. A legislação estar inserida no site do SNS num local associado à gravidez e não ás IVG
  4. Nas instituições hospitalares estas mães serem colocadas em quartos apenas com outras mães na mesma situação, quando necessitam de internamento
  5. Os técnicos de saúde serem sensibilizados para um acompanhamento e abordagem mais humanizada, independentemente da idade gestacional a que a perda ocorra
  6. Ser disponibilizado um acompanhamento do serviço de psicologia de forma mais regular e imediata a estes casais, independentemente da idade gestacional em que a perda ocorra

 

Estas são algumas recomendações que consideramos urgentes, e que será um primeiro passo para que estes casais possam vivenciar o seu luto com mais respeito e dignidade.

Acreditamos que esta é uma causa não só destes pais mas da sociedade em geral, assim sendo contamos com a sensibilidade de todos para quebrar o silêncio que teima em existir em torno da Perda Gestacional.

Atentamente,

A Direção da A-PA"

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publicado por Associação Projecto Artémis® às 16:46






Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.


Direcção A-PA

projectoartemis Sandra Cunha, Psicóloga desde 2005 da Associação Projecto Artémis, tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde essa data na área da Perda Gestacional. Desde Junho de 2011 está como Presidente da Associação Projecto Artémis, procurando quebrar o silêncio, alienado o seu conhecimento técnico com o da realidade da perda de um filho. Perdeu um bebé em 2007, após 2 anos de trabalho como psicóloga da Artémis, o que lhe permitiu reunir à técnica o conhecimento árdua de ter vivido na pele a perda de um filho.

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