Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


A perda gestacional na perspetiva de um pai - Goucha TVI

Segunda-feira, 29.11.21
A Perda Gestacional é vivida em casal, muitas vezes esquecemo-nos que o pai também sofre, o Gonçalo e a Vânia são uma casal que perderam o seu Santiago cedo demais, e que nos têm permitido fazer esta caminhada em busca de paz e serenidade para lidar com a perda do seu filho Santiago. Bem haja pelas vossas palavras, por darem cara e voz a tantos outros bebés e pais.
Gratidão à TVI em específico a toda a equipa do programa Goucha pela forma como sempre recebem estes pais, e por estarem sempre connosco a quebras tabus.
 
 
 
 
 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Associação Projecto Artémis® às 17:37

Testemunho Daniela Muller - Perda Gestacional

Quarta-feira, 12.05.21

Daniela.jpeg

"Em maio do ano passado, descobrimos que estávamos grávidos. Meu marido e eu, e posteriormente os familiares mais próximos no Brasil, celebramos a boa nova. Aquela foi a nossa primeira gravidez, que aconteceu naturalmente após tomarmos a decisão de sermos pais. E fomos, mas não da maneira que imaginamos inicialmente. Da quinta para a sexta semana, nossos bebês deixaram de se desenvolver no plano físico e eu vivi a experiência do abortamento natural. Como acontece com a maioria das mulheres que tem a gestação naturalmente interrompida, foi um grande choque, agravado pelo péssimo atendimento que recebi no pronto socorro de uma maternidade.

Fui atendida por mulheres em um ambiente hospitalar preparado, pelo menos em princípio, para atender mulheres. E foi justamente por parte das profissionais de saúde que recebi um tratamento frio, desprovido de qualquer empatia.
A começar pela senhora da recepção, que mesmo vendo meu estado de nervosismo e dor não deixou de lado sua preguiça e mau humor do começo da manhã. Não sei se o fato de eu ser brasileira, mesmo tendo toda a documentação regularizada e o direito de ser atendida na rede pública de saúde portuguesa, fez diferença. Prefiro acreditar que não.
Apenas quando não consegui mais conter o choro de desespero, a senhora portou-se com um pouco mais de humanidade. Após aguardar por cerca de 30 minutos, entrei na sala para ser examinada por um médico, este sim um senhor muito gentil.
Ele conversou comigo, tentou me acalmar, me examinou e pediu um exame rápido de urina. Após uns poucos minutos, a enfermeira que trouxe o resultado do exame que confirmava a notícia que eu não querida receber disse em tom de deboche: “ihhh, aqui já não há bebés, esta senhora não está mais grávida”.
Eu, sozinha no consultório (por conta das regras da pandemia, meu marido não pode entrar), apenas engoli o choro e me vesti. O médico disse que o exame era inconclusivo e que eu deveria fazer um exame de sangue e voltar dali quinze dias.
Saí da maternidade arrasada. Fui para casa e, cuidada pelo meu marido e por toda a minha família – mesmo à distância, comecei o meu processo de luto e autocura. As primeiras horas foram as mais difíceis. Mergulhei na sombra da dor, da culpa, da vergonha, da impotência e do desamparo.
Com o passar dos dias, comecei a adentrar um novo território íntimo e a acessar a luz desta experiência, da Maternidade vivida desta forma tão especial, porém não reconhecida socialmente. Neste período, pude desenvolver um novo olhar sobre o aborto espontâneo, sob o ponto de vista da Vida, que é eterna e multidimensional, e não da morte.
Deste processo de autocura pessoal e sistêmica, nasceu uma escrita que virou livro, publicado em setembro de 2020 de forma independente em Portugal. Percebi que era preciso falar deste assunto, que ainda é tabu, o que penaliza ainda mais a Mulher, que sofre solitária e em silêncio.
A intenção da minha partilha é que, juntas, possamos curar esta ferida do tecido feminino, que é negligenciada há muitas gerações e afeta todas as famílias e toda a sociedade de alguma forma.
Precisamos reconhecer e dar um lugar de respeito a estas Mães de Anjos, às crianças não nascidas para este mundo, para o luto, para a dor e, principalmente, para o Amor que existe além de todas as nossas limitações mentais.
É urgente que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar com esta situação tão comum, que acontece todos os dias no mundo inteiro. Toda vida conta, todo filho é precioso para seus pais, toda dor é legítima e merece acolhimento.
Não podemos evitar que a perda gestacional aconteça, pelo menos em grande parte dos casos, pois ela faz parte da experiência humana e a Vida não está sob seu domínio. No entanto, podemos amenizar o sofrimento das Mães, Pais Familiares que vivem esta situação com tratamento digno e empatia nos hospitais.
Louvo a existência de iniciativas como o Projecto Artémis, tão necessário à conscientização da perda gestacional. Bem-hajam!

Daniela Ferreira Vieira Müller, Mãe dos Anjos Maria Clara e João Augusto, a quem dedica o livro “Mãe de Anjo: um novo olhar sobre o aborto espontâneo e a Maternidade”."

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Associação Projecto Artémis® às 12:06

A Dor

Quarta-feira, 06.05.09

 

"Sonhei que também perdia o meu bebé. Sei que me afeiçoei a ela, vivi tudo com ela. Mudei a minha vida por ela. Comprometi tudo por ela. Dei tudo por ela. Já nem sabia viver sem ela. Era o meu sorriso, a minha força de vontade, o meu querer, o meu desejo, a minha fortuna, a minha busca, a minha razão de viver, a minha alegria, o meu esforço, o meu trabalho, o meu sonho, a minha vida, era eu mesmo, o meu pulsar, a minha respiração, o meu andar e o meu pensamento. Sei que teve de ser, mas é uma dor imperdoável, um castigo pelo que eu sou. É uma dor tão intensa, meu Deus. Sinto-me numa lama viscosa, num poço sem fundo e escuro por onde rolo ou caio num abismo que afinal nem sei se o construí. E dói, dói ser irreparável, irreversível. Não é uma mentira, é uma realidade da qual já não posso fugir. Sinto a perda como um conflito entre o desejo da posse, da existência ou da concretização de alguém e o não concretizar, definitivo, irreversível e irremediável, desse desejo. Sentido como fatalidade que me atinge violentamente, dispara-me um sofrimento mental e orgânico tão intenso que me paralisa e me surpreende, que se abate súbito sobre mim, sem eu contar, que me atinge, me fere e destrói. É um sofrimento que vive de um conflito interior, mental e violento, de emoções e sentimentos, onde refaço um percurso, avalio os actos e as consequências, à procura das minhas falhas, dos meus erros e das minhas culpas, e procuro mil e uma soluções, compromissos, cedências, mentiras, desculpas, eu faço tudo para o tentar impedir, mas afinal já aconteceu."
                                                                                                Drº. Mário Sousa,  In Pacto de Silêncio

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Associação Projecto Artémis® às 21:58

Perder ...

Segunda-feira, 06.04.09

 

Quando penso neste vocábulo - Perder - revejo inúmeras sensações, quase todas de cariz negativo. A própria palavra já carrega um som árduo, um cheiro amargo que permite sentirmos um rasto profundo de vazio.

Ninguém gosta de perder, pelas mais variadas razões, a principal delas: ficamos vulneráveis à nossa principal condição de impotência. Há coisas que não dominamos, coisas que nos fogem ao controlo, mesmo após uma árdua luta de posse, mesmo como resultado de uma grandiosa capacidade de acreditar.

Quando nos debruçamos sobre esta palavra - Perder - percebemos que já todos a vivemos, uns de forma mais cruel, outros de forma mais súbtil ou menos dura, mas jamais indiferente.

Perder é aquela palavra que pretendemos nunca referir, pretendemos tê-la longe dos nossos projectos, do nosso presente e futuro, principalmente se a vivenciámos num passado.

 

Perder é algo dramático, mesmo que seja a mais insignificante das situações, perder implica consciência, um assumir da nossa fragilidade peranto algo ou alguém, perder simboliza que falhamos, mas se há perdas que se desvanecem pelas cinzas do tempo, outras há que se transformam no nosso "Adamastor".

 

Há quem diga que nunca perdeu e substime todas as perdas dos outros, há quem tenha perdido, mas que julgue por fracos quem sofre ainda por uma perda, há quem não esqueça uma perda e aponte o dedo a quem chore por ter perdido. Talvez sejamos egoístas, ainda, o suficiente para não querermos saber das perdas dos outros, mas insistimos num altruísmo idiota, quando pretendemos sapientemente (julgamos nós) minimizar o sofrimento inflingido de uma perda a alguém.

Saiba que a dor ignorada, aumenta ...

Torna-se voraz....

Transforma-se em veneno...

Transmite raiva ....

Subjuga uma culpa....

 

Na Perda Gestacional, a perda consome qualquer forma de vida que ainda lateje na nossa alma.

Na Perda Gestacional, ignorar a perda de quem a vive é perder a oportunidade de compreender e dignificar quem perde e o que se perdeu.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Associação Projecto Artémis® às 22:30






Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.


Direcção A-PA

projectoartemis Sandra Cunha, Psicóloga desde 2005 da Associação Projecto Artémis, tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde essa data na área da Perda Gestacional. Desde Junho de 2011 está como Presidente da Associação Projecto Artémis, procurando quebrar o silêncio, alienado o seu conhecimento técnico com o da realidade da perda de um filho. Perdeu um bebé em 2007, após 2 anos de trabalho como psicóloga da Artémis, o que lhe permitiu reunir à técnica o conhecimento árdua de ter vivido na pele a perda de um filho.

Contacto:
Telefone:937413626
E-mail: associacaoprojectoartemis@gmail.com
Site: www.facebook.com/associacaoartemis