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"Uma guerreira que continua a ser uma guerreira, com menos tropas a seu lado"

Quinta-feira, 22.09.16

Resultado de imagem para silêncio ensurdecedor

Hoje, carinhosamente, um amigo de alguém que perdeu um bebé, enviou-nos este texto, que achamos de um sensibilidade extrema, sobre como os amigos vêem a perda de um bebé e todo o seu processo de alguém que conhecem.

Obrigada ao autor do texto, obrigada pela forma como expôs o tema, simplesmente fantástico.

"Era uma vez...

uma jovem que entrou no país das maravilhas!

Um país colorido, cheio de esperança, onde se é capaz de tudo, onde todas as pessoas são afáveis, carinhosas, onde existe uma preocupação constante e diária para com o novo habitante.

Não foi fácil ali chegar o caminho tinha sido sinuoso e as barreiras foram muitas! Muitos não a entendiam, mas ela estava certa que um dia, todos a iriam entender...

Aquele reino dava-lhe certezas, alegrias e objectivos que não sentia há muito tempo.

Ela sentia-se como tivesse sido escolhida para realizar algo transcendente.

Como que se na sua vida tivesse surgido anjo veio um dia e lhe dissesse para se ajoelhar e rezar pois um milagre estaria para acontecer, um novo ser-criança iria nascer .

Apesar de todas as circunstâncias, meio  loucas por sinal, ela sabia que sua vida merecia uma chance,  mas todos lhe diziam para ser esperta " usa a cabeça menina"!

Mas ela optou por ouvir o coração!

 

Era uma vez...

uma jovem que viveu meses num reino de felicidade absoluta e dali não queria sair.

A expectativa crescia dia a dia, a alegria acompanhava o ritmo da expectativa.

Uma nova vida... duas novas vidas a da jovem e aquela que ela gerava.

 

Era uma vez...

O reino colorido e de bondade foi invadido por nuvens negras, tornados, tempestades, passou a ser reinado por uma Bruxa má ao invés de todas as fadas boas que até ali viviam na altura.

 

A jovem sentiu-se perdida, perdeu tudo, o seu mundo desmoronou-se !

Afinal não havia aquele reino mágico!

Tinha sido conquistado por um governante chamado dor!

 

Durante esta batalha a jovem tornou-se numa guerreira, combateu contra magos e feiticeiros de bata branca, gritou, chorou, mas como guerreira que se tornou aprendeu a ter sempre um sorriso.

 

Os habitantes do reino, fieis companheiros, acompanharam a guerreira nesta batalha que ela sabia desde inicio estar perdida, nunca arredaram pé, gritaram com ela, riram com ela, choraram com ela.

 

Era uma vez...

Uma guerreira que perdeu a sua grande batalha, e perdeu também alguns dos fieis companheiros que  acompanharam, uns por não saber o que dizer, outros que acharam que a guerreira precisava de se reerguer sozinha, outros tão simplesmente entenderam que “já passou, já passou”!

Era uma vez ...

 

Uma guerreira que continua a ser uma guerreira, com menos tropas a seu lado.

Uma guerreira que não revela a sua estratégia a ninguém e sequer fala da batalha que perdeu.

Os conselheiros do reino que a deverião apoiar encontram-se ocupados, as razões pelas quais a batalha foi perdida continua por desvendar.

 

Era uma vez...

Uma jovem, que lutou, perdeu e ganhou mas que continua num silencio, um silencio composto por gritos ensurdecedores, que só ela ouve e que não tem coragem de partilhar.

 

Era uma vez...

Uma guerreira que esteve no pais das maravilhas e que hoje continua a batalhar num mundo tão real e tão cruel!"

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publicado por Associação Projecto Artémis® às 12:41






Espaço de partilha com objectivo de diminuir a falta de informação técnica e emocional a mulheres que vivenciam o luto da perda de um bebé ao longo da gravidez, bem como quebrar o Pacto de Silêncio resultante de todo esse processo de luto na Perda Gestacional.


Direcção A-PA

projectoartemis Sandra Cunha, Psicóloga desde 2005 da Associação Projecto Artémis, tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde essa data na área da Perda Gestacional. Desde Junho de 2011 está como Presidente da Associação Projecto Artémis, procurando quebrar o silêncio, alienado o seu conhecimento técnico com o da realidade da perda de um filho. Perdeu um bebé em 2007, após 2 anos de trabalho como psicóloga da Artémis, o que lhe permitiu reunir à técnica o conhecimento árdua de ter vivido na pele a perda de um filho.

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